DOCUMENTOS
DAS MESAS REDONDAS
I
MESA REDONDA: “A MÃE TRABALHADORA”
- 21.05.1998
Mais
uma vez exercendo sua função pedagógica,
o MUSEU HISTÓRICO promove um debate sobre
a situação das famílias, em que a mãe trabalha
fora de casa. Esse tema é atual, uma vez
que, em tempos passados, o trabalho da mãe
fora do lar era raro. “Por que não provocar
a reflexão acerca dessa nova realidade?
Nunca, na história da humanidade, tantas
mães saíram de suas casas e dividiram a
assistência dos filhos com os serviçais,
parentes, vizinhos e a mídia.”
Marco
Antonio Filipin, Maria Lúcia Monteiro
Casarotto, Ana Franco, Alba M.F. Rossi,
Maria Natalina Daud, Judith dos Reis
Visoni, Dra. Maria Salete Cavestré
|
A
educadora, professora Judith dos Reis Visoni,
fez um histórico da mulher através dos tempos,
da supremacia egoística cristalizada milenarmente,
situando a mulher no mundo doméstico, como
objeto de prazer sexual. Verifica-se o conceito
de que a mulher, como ser inferior, deveria
cuidar da função reprodutiva, encarregar-se
dos trabalhos do lar, aguardando pacientemente
a volta do homem à casa.
De
civilização em civilização, as mulheres
foram reprimindo os seus anseios de realização
como seres humanos.
Na
Roma Antiga podiam frequentar escolas elementares
e, quando tinham condições econômicas, lhes
era permitido o acesso à educação posterior.
Na
Grécia, eram consideradas naturalmente corrompidas,
porque existiam para criar a matéria, os
filhos eram da mulher, considerados “filhos
orgânicos”, mas no espírito, eram filhos
do homem. As mulheres não passavam de reprodutoras
da espécie humana.
No
Egito, o trabalho manual era tarefa dos
escravos e das mulheres. Os primeiros faziam
serviços mais pesados e as mulheres escravas
serviam dentro de casa.
A
sociedade etrusca pode ser apontada como
exceção nesse contexto, pelo fato de nela
existir o matriarcado.
Entre
os hebreus, algumas mulheres simbolizavam
aspectos pejorativos: Eva “seduziu” Adão,
comprometendo toda a felicidade humana,
sendo responsável pela expulsão do casal
do paraíso; Dalila “tirou” a força moral
de Sanção.
A partir do século XVIII, o lar passou a
ser uma unidade econômica.
As
mulheres produziam bens de consumo: fiavam,
teciam, mas sempre dentro de casa.
Com
a industrialização, o trabalho feminino
também se ramificou com um longo e triste
capítulo, escrito em traços negros, na caminhada
da mulher. Desenvolveu-se a prostituição
e a exploração da mulher.
A
partir do século XIX, a mulher conquista
o posto de formadora, educadora e a maternidade
assume um papel mais importante no contexto
social.
As
duas grandes guerras desse século causaram
desemprego, desajustes e desnivelaram o
número de homens e mulheres. Isso levou
a mulher para uma viagem sem volta, levou-a
a assumir papéis fora de casa. Foi para
os campos de batalha como enfermeira, atuou
nos serviços de transportes, ensacarias,
consertos de trilhos, construção e reconstrução
de casas. Tornaram-se operárias, experimentaram
a burocracia, horários, disciplina, hierarquia
e coordenação. Descobriram a própria omissão,
aprenderam a dividir o tempo e a organizar-se.
A
partir da década de 60, houve revolução
nos costumes. Com o fim ao regime patriarcal.
As regras básicas da convivência foram abaladas
nos seus alicerces. Os psicólogos já não
se entendiam, quanto à teoria do não . Não
castigar seus filhos, não proibir, não,
não, não. Essas crianças, quando adultas,
tiveram enormes dificuldades, para estabelecer
limites aos seus filhos...as mulheres já
fora de casa.
Hoje,
nesse novo contexto familiar, os filhos
são criados na conformidade da sociedade
atual, abalando a ética, tocando a desonestidade.
Os pais tentam abdicar do compromisso de
garantir aos filhos os princípios morais
e religiosos, estimular o comportamento
ético na convivência social. Essa educação
básica acabou ficando a cargo da escola.
Hoje, já há uma conscientização dos pais
dessa obrigação, já há uma preocupação com
a qualidade nas relações familiares, uma
vez que a quantidade dessa convivência caiu
em função dessa nova realidade econômica
mundial, que leva a mulher a atuar no mercado
de trabalho, para complementar o orçamento
doméstico, além, é claro, de garantir essa
sua nova conquista social. Hoje, a mulher
caminha em condições de igualdade com o
homem, não só no ambiente doméstico, mas
em todos os setores da sociedade.
Dra.
Maria Salete Cavestré - Delegada da Mulher
em Penápolis - falou sobre a violência no
lar. Se isso está vinculado ao fato da mulher
trabalhar fora de casa.
Pelas
estatísticas, o alcoolismo é o maior indicador
dessas ocorrências. O ciúme e insegurança
leva o homem à violência doméstica. O fato
da mulher trabalhar fora, genericamente,
não leva à violência. A mãe trabalhadora
tem mais condições de denunciar as agressões
sofridas. Pois, ela pode, com seu salário,
de alguma forma, sustentar-se e aos filhos,
encontrando soluções, resolvendo problemas.
“A sociedade deve conscientizar-se de que
a mulher não existe só para o lar, que ela
não precisa ser comandada e sustentada pelo
homem.”
A
professora Alba Maria Ferreira Rossi - Delegada
de Ensino de Penápolis - discorreu sobre
o rendimento escolar abordando três fatores:
Político; Econômico - social e Familiar.
No
primeiro, lembrou que o número de mulheres
alfabetizadas no Estado de São Paulo, eleitoras,
é bastante expressivo. Ao escolher um candidato,
ela está influindo na política educacional
do município, estado e nação.
No
aspecto econômico - social, esclarece que
o trabalho da mulher gera renda, proporcionando
mais conforto e estabilidade à família.
Ela passa a ter uma percepção mais aguçada
da realidade, em que vive. Estas experiências
ajudam a mãe trabalhadora a perceber a importância
da escolarização de seus filhos. Isso influi
no maior rendimento escolar.
Quanto
ao aspecto familiar, a Delegada de Ensino
frisou bem: “Não é a quantidade de tempo,
que a mãe passa com o filho, que é importante,
mas a qualidade do relacionamento”.
Auditório
da Câmara Municipal de Penápolis (1997). |
Famílias
bem estruturadas favorecem um bom rendimento
escolar. “Infelizmente, hoje temos a mãe
eletrônica, a TV, que interfere negativamente
na educação dos nossos filhos. É preciso
ensiná-los a filtrar o que vêem na mídia.
Estamos criando uma geração atemorizada.
Os futuros professores devem saber construir
mentalidades críticas”.
A
mãe trabalhadora influi bastante nas atividades
escolares, atuando em conselhos, participando,
na escola, das dificuldades dos filhos,
integrando as APMs reivindicam melhorias
no ensino, entre outros. A professora da
escola, em geral, é mãe trabalhadora, com
dupla jornada. O baixo salário obriga-a
a correr de uma escola para outra, prejudicando
seu rendimento, pois falta-lhe tempo para
preparar suas aulas. Isso preocupa, pois
os professores são formadores de opinião.
A
psicóloga Maria Natalina de Almeida Daud
traçou um perfil do ambiente familiar atual,
a necessidade de considerar o que vem ocorrendo
com a figura da mulher.
No
início do século, ser mulher era sinônimo
absoluto de ser mãe. Depois da procriação
e dos cuidados com os filhos, ela esperava
a morte, senão a física, a morte do desejo,
da busca, da realização pessoal, e assim,
com a educação centrada em suas mãos, o
ciclo se repetia, com os homens sendo educados
para fazer carreira e as mulheres para o
casamento. Mas, por questões já citadas
antes, a mulher descobre um outro mundo.
Passa a ser esposa, mãe, amante, profissional
e continua sendo mulher.
Fora
do lar, busca direitos iguais, prazer, auto
- realização e traz ao lar suas conquistas,
suas inquietações, garantindo maior equilíbrio
na relação homem/mulher e maior respeito
pela individualidade dos filhos. “Troca-se
a educação repressiva pela expressiva. As
crianças, antes vistas como projetos, mudam
para indivíduos que “são”, que possuem idéias,
que cobram, exigem, sentem”.
O
conflito surge, às vezes, pelo fato de que
as pessoas nem sempre estão preparadas para
essa nova situação. É comum a angústia dos
pais, que não sabem estabelecer limites,
disciplina e, ao mesmo tempo, serem democráticos.
A
família passa a ser menor, pois a mulher
já não está mais disponível. Aumenta o número
de casamentos desfeitos. Os homens consideram
o fato da mulher trabalhar fora, como uma
concessão e elas são então cobradas: devem
ser excelentes profissionais, dar conta
do serviço doméstico, ser boa mãe, ótima
esposa e amante, etc... Como isso é impossível,
a mulher tem dois caminhos: Abdica da profissão,
sufocando seus anseios, vivendo em conflito
permanente, até que o homem assimile essa
realidade, ou, então, decide pela separação.
A
educação dos filhos passa a ser dividida
com a avó, a tia, a vizinha, a empregada
ou a TV, influenciando na formação dos valores
desse novo indivíduo.
A
família está se reorganizando em novas bases.
Cabe, portanto, às novas mães e pais continuarem
o processo de lapidação dessa nova família.
Pois, todo ser humano é dinâmico e está
num processo contínuo de transformação.
Esse
documento foi feito pela professora Maria
Lúcia Monteiro Cazarotto.
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