História

História de Penápolis


Pioneirismo
O primeiro empreendimento, para a colonização dos campos de Avanhndava, foi em 1767, quando o Capitão Geral da Província de São Paulo, Luíz Antônio Botelho de Souza Mourão, instala nas mediações do Salto. Uma colônia agrícola, para dar subsistência às tropas oficiais, que se dirigiam para a fronteira do Mato Grosso.
Em 1842, algumas famílias saíram de Pinhuy ( MG) para Descalvado (SP) e, posteriormente, pelos afluentes do Rio Tietê, se apossando de terras devolutas e trazendo manadas de gado caracu. Em 1886, essasfamílias se confrontaram com os índios nativos e tiveram que fugir para a margem direita do Tietê, hoje Ubarana. São elas: Goulart, Castilho, Ferreira de Souza, Pinto Caldeira, Corrêa, Pereira Coelho, entre outras. Em 1904, os herdeiros dessas terras se uniram a Fernando Ribeiro de Barros, que chegara com a família em 1902, e voltaram para retomá-las. (Barros, Fausto Ribeiro – Achêgas para a História de Penápolis – de 1767 a 1848).
Finalmente, em 1907, chega a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Vieram também os Frades Capuchinhos, que lotearam as terras, onde hoje está a cidade, construíram o convento e abriram uma sala de ensino gratuito, como determinava o documento de doaçõa de terras, datado de 07 de dezembro de 1906 – o original encontra-se no 1º Cartório de São José do Rio Preto.
Fonte: Museu Histórico de Penápolis



A ORIGEM DA CIDADE DE PENÁPOLIS

Glaucia M de Castilho Muçouçah Brandão

A pedido do rábula Manoel Bento da Cruz, Eduardo de Castilho e sua esposa Ana Melvira de Castilho doaram cem alqueires de terras de sua fazenda Boa Vista do Lageado (localizadas nas proximidades do córrego Maria Chica) para que, em 50 alqueires fosse erguida uma cidade e fundada uma escola de primeiras letras.

No dia 7 de dezembro de 1906 foi lavrada, no Cartório da Comarca de São José do Rio Preto, a escritura de doação à Ordem dos Capuchinhos de São Francisco, de São Paulo, que foram convidados por Bento da Cruz para iniciarem a evangelização e alfabetização dos primeiros habitantes do novo povoado. Uma nova escritura datada de 2 de dezembro de 1907 confirmou a doação celebrada em 1906.

A 25 de Outubro de 1908, Frei Bernardino de Lavalle (que visitava e rezava missa no Patrimônio dos Passos desde o início do século), ergueu e benzeu em grande solenidade um Cruzeiro, símbolo de paz e progresso, e rezou uma missa, dando o nome de Santa Cruz do Avanhandava (nome da Fazenda do Cruz) à cidade que se iniciava. No mesmo dia Frei Boaventura De Aldeno, Frei Sigismundo de Canazei e Frei José de Cassana instalaram-se provisoriamente na pequena e abafada casa de tábuas (primeira casa da nova cidade), que além de residência, era ainda igreja e escola.

Um ano depois, com a morte do Presidente da República, Bento da Cruz mudou o nome da Estação (já que as cidades surgiam ao redor das estações da estrada de ferro NOB) para Penápolis, em homenagem a esse grande incentivador da cultura cafeeira na região.

Em 17 de novembro de 1909, pelo decreto 1777, foi criado o Distrito de Paz de Penápolis, pertencendo ao Município e Comarca de São José do Rio Preto.

Em 16 de dezembro de 1910 foi criada a Comarca de Bauru, a ela anexando os Distritos de Paz de Miguel Calmon (Avanhandava) e Penápolis que se desmembraram de S. J. do Rio Preto, e anexando ao Distrito de Penápolis toda a parte do Distrito de Itapura (Patrimônio do Carmo do Avanhandava), à margem esquerda do Tietê.

Em 22 de dezembro de 1913, pelo decreto número 1397, Penápolis é elevada a categoria de Município, e sua instalação se deu a 11 de maio de 1914, pelo então prefeito de Bauru, Manoel Bento da Cruz.

A criação da Comarca de Penápolis se deu pelo decreto número 1557, de 10 de outubro de 1917, e sua instalação ocorreu a 27 de junho de 1918. Inicialmente pertenciam a ela, os municípios: Araçatuba, Birigui, Glicério, Braúna, Alto Alegre, Avanhandava, Luiziânia e Barbosa. Atualmente apenas Araçatuba e Birigui se desmembraram da comarca de Penápolis.

A cidade idealizada por Bento da Cruz, no ano de 1910 contava com 50 habitantes enquanto no Patrimônio dos Passos e arredores residiam em torno de 2500 pessoas. Suas ruas foram traçadas em octogonais, os quarteirões divididos em datas de 22 x 44 metros e iniciadas as vendas dos lotes urbanos. O Cruz recomendava aos compradores que construíssem suas casas de tijolos e cobertas com telhas pois já existia a sua olaria. Três ruas atraíam os compradores: uma abaixo da ferrovia e as outras duas para cima

Surgiram as indústrias: A Olaria do Cruz; O Engenho de cana de açúcar de Elesbão José de Souza (onde atualmente é a Campezina); em 1914 a Destilaria de pinga com roda d’água de João de Souza Barbeiro; Manoel Rozetti com máquina de beneficiar arroz e uma pequena serraria; Orôncio Vaz de Arruda montou máquinas de benefícios; Esperidião Makrakis tinha moinho de fubá e farinha; alfaiataria de Luis Minucci; Padaria de Alberto Domingues da Silva; Ourivesaria de Guilherme Mosca e esposa D. Emília; sapataria e selaria de Gaspar Rocco; ferrarias de João Ferreiro; Casa Luzitana de Domingues & Cardoso; Casa Rolin de Pedro de oliveira Rolin; Tipografia Pennapolense de Mello & Cia; Pharmacia Pennapolis de Euclides de Oliveira Lima; Gabinete Dentário de Domingos Vieira da Silva; Hotel do Comercio de Germano Sanches; Médico Operador e Parteiro: Dr. Aniceto Correia; Hotel São Francisco de Eliseu Bertolli; salão de Bilhar de Silvano Faria; Torrefação Grecca de E. Makrakis; Hotel Jacoletti de Antonio Jacoletti; Cartório de primeiro e segundo ofício, de José Candido de Andrade e Jesuíno V. Camargo; Curtume Canta Galo de Castilhione e Giácomo Paro; Relojoaria Curi; Casa Faki; Cervejaria Avenir de Pepino Melchiori; Casa da Lavoura de Mario de Souza Campos; Companhia de Terras, Madeira e Colonização de São Paulo.

Residiam na Avenida Avanhandava (hoje Adolpho Hecht), entre outros: Batista Gargione, Osório Mathias, Bento da Cruz (com um pequeno zoológico), Antonio Jacoletti e Manoel Ventura, Gilberto Cervelli, Xisto de Creci, Adolpho Hecht (recém chegado do Patrimônio dos Passos), Pedro Anis, Abraão Fachi e José Issa (comerciantes), Miguel Bezerra dos Reis (primeiro agente do correio), Dib Jorge e Jorge Salomão, Amadeu Soliani, Joaquim Soares de Oliveira (com açougue) José e Luiz Ciocchi (carpinteiros e Bernardo Ciocchi (farmacêutico prático), Mariano Melles9comerciante), Alcides de Carvalho (comerciante), Antonio Romão (sub delegado) e Elesbão José de Souza (suplente de delegado), Caetano Baraldi que fornecia verduras e pães à população depois foi proprietário do Cine Avenida.

Na Avenida da Estação (hoje Rui Barbosa): Raphael Cesário (comerciante de madeiras – fornecia lenhas e dormentes para a Estrada de ferro; mais tarde foi eleito vereador, vice-prefeito, prefeito e presidente da Câmara, primeiro Juiz de Paz e fundador da Loja maçônica) Antonio Cantareira (com hotel e botequim), Miguel Scotilha (comerciante); o prédio da primeira Câmara Municipal em frente a loja do Sol de Francisco Franco, Francisco Rillo, Geraldo Ruiz Rodrigues; Orlando dos Santos (hotel Brasil), Manoel Teixeira (com Hotel), Mestre Gaspari (com sapataria)

A primeira casa da cidade, feita de tábuas e que servia de residência aos padres franciscanos e como capela e escola ficou “muito longe do centro”, fora do traçado da cidade feita pelos agrimensores Christiano Olsen e Adolpho Hecht

Em 1918 chegam a Penápolis o juiz Dr. Cândido da Cunha Cintra, o Promotor Dr. Antonio Pereira Lima e os advogados Antonio Define e Raul Alves de Godói.

No ano de 1928, o número de habitantes subiu para 4500, porém, ainda continuou insignificante comparado aos 13500 habitantes localizados nos campos e que transformavam a cidade em subsidiária, em função das fazendas e dos Patrimônios iniciais, como o de Nosso Senhor dos Passos que já se desenvolvia e em breve se tornaria a primeira cidade a ser fundada na região Noroeste de São Paulo entre Bauru e Rio Preto. Porém, o sonho do político Bento da Cruz em fundar uma cidade, principalmente porque ela valorizaria os seus 30.000 alqueires de terras, fez com que desviasse o traçado original da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil que passava pelo Patrimônio dos Passos onde residia, e mudou a “chave” (ao redor das quais surgiam as cidades) ou a estação da NOB, dali, para o local onde pretendia fundar a nova cidade que se chamaria Penápolis e para onde, aos poucos, foram se transferindo os vizinhos moradores, sendo que já no ano de 1950 Penápolis tinha 34386 habitantes, sendo 24.597 na cidade e 9.789 no campo.

Muitas escolas foram fundadas como: Colégio São Francisco: 1910; Primeira Escola Urbana (1912), que agrupada às outras existentes deram origem às Escolas Reunidas (1919); Primeiro Grupo (ou antiga Escolas Reunidas) – 1920; Escola Normal do Colégio São Francisco de Assis: 1926; Colégio Santa Clara: 1925; Ginásio do Estado: 1936; Segundo Grupo: 1945; e outras (Escola Est. Adelino Peters (primeiro e segundo graus)- 1951; Associação Vila da Infância: 1953; Oceu: 1957; Escola Est. Marcos Trench: 1958; Escola de primeiro e segundo Graus Yone Dias de Aguiar: 1965; Escola de Primeiro Grau Casa da Amizade: 1965; Escola Agrícola: 1970; Faculdade de filosofia Ciências e Letras de Penápolis: 1966/67; Fundada a Associação Amigos dos Excepcionais: 1970); foi fundada a Santa Casa de Misericórdia (1919); instalaram-se serviços de eletricidade pública e particular hidro-elétrico (1920 – Companhia Força e luz do Avanhandava e posteriormente pela Cesp (1921); serviços telefônicos (desde 1916); Surgiram os Jornais: O Sentinela, O Jasmim, A Justiça: 1924; A Comarca de Penápolis; o Fórum: 1944/48; a Usina de Álcool e de Açúcar (Usina Campestre): 1948; foi fundado o Hospital Espírita: 1959, enfim, era iniciado o desenvolvimento da cidade que, economicamente, durante todos esses anos, caminhou a passos lentos comparados às cidades da região fundadas depois de Penápolis, embora Penápolis seja referência em saneamento básico e cultura.

Desde a sua fundação, o município de Penápolis desenvolve vasto potencial cultural que justifica o seu referencial de Cidade Pólo Cultural da Região Noroeste de São Paulo, atestados por:

· Museu do Sol: Museu de Arte Naif: Arte Primitiva e Ingênua, um dos únicos do gênero na América Latina. O seu acervo conta com aproximadamente 400 obras de 100 artistas plásticos nacionais e estrangeiros, já tendo sido exposto em inúmeros estados brasileiros e em países como Estados Unidos, Europa, Israel e Japão.

· Museu de Arte Contemporânea: Também no âmbito da Funarpe, possui um acervo de aproximadamente 150 obras dos mais renomados artistas plásticos brasileiros. Poucos museus fora das capitais possuem tão importante conjunto de obras.

· Museu de São Francisco: O tema e motivo único é a vida e obra de São Francisco de Assis, uma homenagem de seus idealizadores (quando da realização do IV Salão de Artes Plásticas da Noroeste) ao Padroeiro da cidade de Penápolis. São 129 obras: pinturas, esculturas, desenho e gravuras de importantes artistas brasileiros.

· Museu Municipal do Folclore: O acervo, composto por mais de 12 mil peças, expressa a Cultura Espontânea do povo brasileiro e especialmente da região, mantém intensa programação cultural durante o ano, além de abrir-se para pesquisadores, estudiosos e turistas.

· Museu Histórico e Pedagógico “Fernão Dias Paes”: Criado no ano de 1958, possui um acervo com aproximadamente 12 mil peças como, fotos, documentos e objetos que testemunham a história da Cidade e Região, preservando assim toda a sua identidade histórico-cultural. Hoje, O Complexo Cultural instalado no antigo prédio da Prefeitura Municipal abriga os Museus do Folclore e o Museu Histórico e Pedagógico, além do Depto Municipal de Cultura.

· Centro Cultural “Primeira Casa de Penápolis”: Restaurada com a preocupação de conservar suas características originais, tornou-se um espaço para eventos, palestras, exposições e oficinas culturais.

· Teatro Municipal “Maria Tereza Alves Viana”: A Arte Teatral, presente na história cultural da cidade desde a década de 20, obteve muitos prêmios e é uma entidade de liderança cultural, desde 1964, com Maria Tereza A. Viana.

· Patrimônio Histórico de Nosso Senhor dos Passos: Marco inicial da Cidade de Penápolis e da Colonização da região Noroeste de São Paulo, já que, no ano de 1842 quando ali estabeleceram-se os desbravadores da região, esta, ainda figurava nos mapas brasileiros como “Sertão Desconhecido”e, a partir desse Patrimônio toda a região experimentou grande desenvolvimento e progresso e a fundação de importantes cidades paulistas. Hoje, como testemunho da história, restam apenas o Cemitério Histórico, de 1886, onde estão sepultados os corpos de onze desbravadores, em vala comum, onde foi erguido um Cruzeiro.

· Aldeia Indígena Icatu: Aldeamento criado no período da Colonização da região com o objetivo de estabelecer (e principalmente delimitar) o território dos índios Caingangues, primitivos donos destas terras.

· Outros espaços educacionais e culturais: Biblioteca Municipal “Sud Menucci”, Ballet Municipal, Conservatórios Musicais, Banda Municipal, Instituto de Música e Artes de Penápolis.

 


O PASSADO, PASSADO A LIMPO
(antes que o tempo passe tudo a raso)

Autora: Glaucia Maria de Castilho Muçouçah Brandão
Penápolis – 1989/90

Ainda que no ano de 1767, D. Luiz Antonio Botelho de Souza Mourão, capitão da Província de São Paulo, tenha mandado localizar moradores junto ao Salto do Avanhandava e no bairro do Degredo, estes, não são tidos como desbravadores ou primeiros habitantes da região, por não possuírem características permanentes de ocupação.

A história da região noroeste se inicia a partir do ano de 1842, quando se estabeleceram na região do Avanhandava os primeiros povoadores procedentes de Minas Gerais e da cidade de Descalvado (que de sua sesmaria (doada por D. Pedro I) faziam incursões ao território desde o ano de 1826) .

Nos anos de 1838 e 1839, uma estrada sertaneja aberta pelo mineiro Joaquim Francisco Lopes – que ligava Piracicaba a Cuiabá – serviu de picada a alguns de seus conterrâneos Pinhuienses que, devido a decadência econômica de sua província de origem-causada pelas revoluções liberais – a trilharam para se fixarem nos Campos do Avanhandava, local que lhes atraiu por permitir a manutenção de sua atividade tradicional, o pastoreio, e pela fertilidade de suas margens, para o plantio de suas lavouras de subsistência. Esses contingentes humanos apossaram-se de centenas de glebas devolutas, esparsamente, formando pequenos bolsões de um povoamento descontínuo e escasso: à margem direita do Tietê, estabeleceu-se a família de Alexandre José de Castilho que, juntamente com outros desbravadores, fundaram o Patrimônio do Carmo do Avanhandava (futura Colônia Militar); à margem esquerda do Tietê e nas duas margens do ribeirão Lajeado, o português José Antonio de Castilho, a família Goulart, os Pereira Dias e os Pinto Caldeira que fundaram o Patrimônio de Nosso Senhor dos Passos (no entroncamento das estradas que levavam às suas fazendas) – sítio urbano inicial da Colonização da Noroeste Paulista e da fundação da cidade de Penápolis e de outras importantes cidades da região, já que, o território no ano de 1842, era considerado inóspito e figurava nos mapas como “Terrenos (ou Sertão) Desconhecidos”, pestilento e só habitado por índios e animais selvagens; e, finalmente, a família de Maria Francisca do Carmo (ou Maria Chica) e o esposo Isaías Duque Frutuoso e os irmãos Alexandre (segundo marido de Maria Chica), Manoel e Joaquim Ferreira de Souza que estabeleceram-se do lado esquerdo do córrego que hoje leva o seu nome e em cujas margens seria, em 1908, fundada a cidade de Penápolis.

Nos Patrimônios foram erguidas algumas edificações como um Cruzeiro, ao redor do qual surgiram as casas de pau- a- pique, uma capela e um cemitério. Nas fazendas, as sedes inicialmente também eram de pau a pique e cobertas de sapé. Havia outras construções como a casa da farinha de mandioca e do polvilho; o engenho para a fabricação do açúcar mascavo e da rapadura; o monjolo para pilar os mantimentos como arroz, milho, café e outros e os currais feitos de toros roliços de aroeira ou ipê, com varas horizontais, além dos chiqueiros de porcos com cerca de trincheira deitada. As fazendas eram reúnas e o gado pastava marcado apenas com a sigla de seus donos. Seus hábitos eram gregários e o sistema era o de ajuda mútua nos serviços, ou sistema de mutirão. Os desbravadores viviam assentados em uma economia natural, produzindo em suas lavouras tudo o que necessitavam para o seu sustento (sem a preocupação de gerar excedentes para o mercado), por isso utilizavam-se somente dos campos, respeitando as florestas, domínio dos índios, daí a convivência pacífica por quarenta e quatro anos com os primitivos habitantes destas terras.

A partir de 1850, porém, novas correntes de ocupação, desta vez procedentes de Botucatu e arredores, passaram a invadir o restante das terras e povoando o território genéricamente denominado “Região do Bauru”. Esses grileiros vão provocar conflitos ao tomarem a terra dos índios que, por sua vez, responderão com resistência e hostilidade.

Às pressões dos proprietários e aos interesses do Estado para proteger as localidades ocupadas por “gente civilizada, laboriosa e útil ao país” – requisitos efetivamente não preenchidos pelos grupos indígenas na perspectiva do capitalismo – faz com que a presidência da Província oficialize a repressão, mesmo com os proprietários já usando das ações armadas das Dadas, comandadas por bugreiros.

Souza Martins estabelece dois momentos significativos para essa zona pioneira:
-O primeiro denominado Frente de Expansão “quando ainda os participantes ( posseiros) dedicam-se à própria subsistência e secundáriamente à troca (. . .) foi esse tipo de economia que prevaleceu no Oeste de São Paulo (. . .) “e, principalmente nos Campos do Avanhandava.
-Mais tarde, num segundo momento, entra em cena a Frente Pioneira (1880/90 até a década de 1910) :Após os levantamentos feitos pela Comissão Geográfica e Geológica Brasileira das características e potencialidades do “Sertão Desconhecido”, que revelava a fertilidade de suas terras para o plantio do café e, com o aumento do volume do comércio do café na Europa e Estados Unidos é que a ocupação se instala como empreendimento econômico e colonizador. Grandes lavouras cafeeiras são implantadas por essas frentes de conquista. Em função delas surgem as empresas ferroviárias, comerciais e bancárias; os vultuosos empréstimos dos capitais ingleses para comprar, vender e financiar a produção; imobiliárias loteiam terras promovendo a imigração estrangeira, enfim estava, a partir deste momento, consolidada a incorporação do território ao capitalismo.

Nessa segunda metade do século XIX, o comercio mundial entrando num grande ritmo de crescimento (não há mais troca de produtos; o capital se apropria da própria produção em nível mundial: daí o seu crescimento desenfreado) passa a exercer influência sobre a economia de países onde o desenvolvimento do capitalismo era muito fraco, criando condições para esse desenvolvimento, como no caso do Brasil.

A generalização do consumo do café no mundo gerou uma intensa revolução econômica além de modificações na estrutura social do país; o escravo africano foi substituído pelo imigrante europeu na produção e foi mudado também o estatuto que regia a propriedade fundiária (a partir de 1850 as terras foram divididas em particulares e devolutas, sendo que esta última só poderia ser adquirida por alto preço) para se cercear o acesso do imigrante à terra. Ele era pensado como assalariado (para servir de mão de obra para os cafeicultores) ou no máximo como meeiro mas nunca como proprietário.

A ocupação sistemática da terra por esses empreendedores, transforma radicalmente a paisagem sócio-econômica noroestina, submerge os precursores moradores e gera conflitos com os índios, ignorados pelas leis e portanto principais vítimas desse processo de aceleração traumática do movimento de conquista que, ora espoliava suas terras, ora tentava explorar sua mão de obra (não conheciam o trabalho como exploração de outrem e sua atividade produtiva não implicava na alienação de excedentes para o mercado. Produziam apenas para a sobrevivência de suas tribos), ora destruía sua organização social além de usar de dispositivos de dizimação, por considerá-los “atravancadores do progresso”.

Os mecanismos de destruição incluíam além das guerras biológicas como vírus de sarampo, varíola e influenza impregnados nas roupas que traziam dos hospitais de isolamento de São Paulo e colocavam estrategicamente nas trilhas dos índios nas margens do Rio Feio-Aguapey como envenenamentos das águas dos rios onde pescavam os seus alimentos e usavam água para beber e cozinhar, além das organizações armadas como as “Bandeiras” que os dizimavam com armas de fogo. O cortejo das adversidades não termina aí: nessa época a imprensa paulistana já criticava o governo do Estado pelo tratamento dispensado aos índios: … ” concede títulos de honrarias como Capitão, Alferes, etc … Mas os índios pedem segurança, defesa e justiça e, nesse ponto, cessa a boa vontade do governo. A única justiça que os índios poderão obter desde já é aquela que brilhou recentemente em várias localidades do Estado: a ponta das baionetas e o tiro das carabinas”.

Depois de esmagados os Oti-Xavantes e perseguidos insistentemente os Guaranis, os Caingangues foram as últimas vítimas do processo de colonização, principalmente dos construtores da estrada de ferro Noroeste que lastreavam seus trilhos pela região, a serviço dos cafeicultores. Os silvícolas, e mais precisamente os Caingangues, foram considerados os algozes da história por terem revidado aos sucessivos ataques dos brancos, principalmente em histórica chacina no ano de 1886, na qual atacaram inclusive os desbravadores com quem conviveram amistosamente, por quarenta e quatro anos, no Patrimônio dos Passos. Esse massacre fez os seus sobreviventes abandonarem a região e só retornarem a ela dezoito anos depois, no ano de 1904, para reassumirem as suas fazendas e repovoarem o histórico Patrimônio. Ao encontrarem uma nova realidade econômica (o café e imigrantes afoitos), tiveram que dividir e cercar seus latifúndios, trazendo agrimensores ao Senhor dos Passos, e o rábula Bento da Cruz, para registrar as novas escrituras. Bento da Cruz recebia seus honorários advocatícios das viúvas (os maridos morriam primeiro, vitimados pelo impaludismo e leishmaniose) em terras o que o fez proprietário de grande gleba que, depois de valorizar com algumas benfeitorias (Construiu em seus 30 mil alqueires a primeira estação para a estrada de ferro NOB; como vereador e prefeito de Bauru elevou a cidade a categoria de Distrito; providenciou uma balsa para o transporte público no Porto Guanabara; construiu o primeira chuveiro publico, foi sócio da companhia que loteava terras na região, etc) e passou a vendê-las a imigrantes que tinham conseguido juntar algum dinheiro. Manoel Bento da Cruz adquiriu juntamente com Eduardo de Castilho e Fernando Ribeiro de Barros, a fazenda dos herdeiros de Maria Chica (que também abandonou a região em 1886, diante do ataque indígena) e solicitou a Eduardo que doasse Cem alqueires de sua parte de terras para nela fundar a cidade de santa Cruz de Avanhandava, futura Penápolis (escritura lavrada em 1906) . Procedeu antes ao desvio do traçado original da Estrada de Ferro Noroeste – que passava inicialmente pelo Patrimônio dos Passos -para esse local e, ao redor de sua estação, fundou a nova cidade, no ano de 1908, dando-lhe o nome de Penápolis em homenagem a Afonso Augusto Moreira Pena, grande incentivador da cultura cafeeira.

Penápolis passou a ser o nome oficial da cidade, como se toda a estrutura anterior estivesse falida e em descrédito. Doravante valia apenas a história pós fundação, escrita pelo político Manuel Bento da Cruz.

Livros fontes:
O Passado, Passado a Limpo
e
Maria Chica – A Saga de uma Heroína
Autora: Historiadora Glaucia M. de Castilho Muçouçah Brandão

A HERÓICA PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO DESBRAVAMENTO E COLONIZAÇÃO DOS SERTÕES PAULISTAS



É PRECISO ACAUTELAR UM PATRIMÔNIO


“Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia. Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo se tem relações com essas coisas. Se um indivíduo cresce sem relações com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo que mutilá-lo”
. Carl Jung cit Renato Carrazedo

“Patrimônio não são apenas as coisas que podemos tocar mas principalmente as coisas que nos tocam”.

No elenco da bibliografia brasileira que se ocupa da fundação das cidades, ainda são raros os estudos pertinentes à formação dos primeiros aglomerados rurais, seu contexto psicológico e a organização formal de um domínio construído, cujos conhecimentos interessam sobretudo para um planejamento de ação contemporânea, e a preservação dos fatores históricos e formas sócio-culturais regionais.

Picadas rústicas, abertas pelo bandeirismo, facilitaram o fluxo migratório de algumas famílias mineiras que, devido à decadência de sua província de origem, vieram estabelecer-se nos “Terrenos Desconhecidos” da região do Avanhandava, no ano de 1842, com a finalidade de lutarem por sua sobrevivência . Ali, às margens do ribeirão Lajeado, fundaram o Patrimônio de Nosso Senhor dos Passos , ponto de partida para o desbravamento e colonização deste sertão.

Esses contingentes, que formaram pequenos bolsões de um povoamento escasso vivendo de forma gregária, construíram suas casas de pau-a-pique ao redor de um Cruzeiro(primeiras edificações erguidas). Mais tarde surgiram as capelas com os Santos de suas devoções, dada as suas tradições religiosas. Em seguida construíram o monjolo, (para pilar os cereais, movido pelas águas do rio Lageado, em cujas margens se fixaram) e aos poucos, outras construções como a casa da farinha(onde se fabricava o polvilho, a farinha de mandioca e o fubá extraído de suas roças de milho, além do pequeno e rudimentar engenho -movido por junta de bois- que fabricava o açúcar mascavo, produto da cana de açúcar que também plantavam em suas lavouras de subsistência, produzindo assim tudo o que necessitavam para o seu consumo, sem a preocupação de gerar excedentes para o mercado capitalista que, anos mais tarde, depois de implantado na região, gerou tanta competição e acabou por sucumbí-los. O que se produzia com certa fartura era trocado por sal e outros gêneros de primeira necessidade em cidades banhadas pelo rio Tietê, que facilitava a navegação dos batelões(canoas atreladas). Assim, assentados nessa economia natural, respeitavam as florestas, território dos índios, e não competiam com eles, apesar destas inóspitas terras serem consideradas devolutas pelos governos da época. Se tentavam, sem traumas, invadir seu território, eram logo lembrados, com montinhos de terra atravessados por flechas que, aqueles domínios pertenciam a esses primitivos donos. A convivência foi amistosa por quarenta e quatro anos. E também a harmonia entre homem e meio ambiente.

Mais tarde, mesmo que cada família tenha se apossado de uma gleba de terras, essas terras continuaram reúnas, sem divisões, sem cercas, e o sistema vigente era o de mutirão de ajuda mútua, nas épocas de colheita e outros serviços. Não havia escravos

O Patrimônio dos Passos, situado no centro dessas fazendas, continuou a ser o local de encontro da comunidade por ocasião das festas religiosas, das missas, procissões, bailes, festas juninas e, mais tarde, local de alfabetização dos filhos naturais ou adotivos (muitos em cada família) dos fazendeiros e também de seus agregados. Destas pessoas semi-alfabetizadas algumas se destacaram no campo da literatura como Carmita Ahmad, Aparecida Monteiro e outras pessoas sensíveis que cultivavam os mais nobres sentimentos de solidariedade e amor ao próximo, e outros exemplos de valores éticos e morais, de um povo altruísta, espiritualista, corajoso e forte.“

Através da história, em vários lugares e em várias épocas, homens e mulheres gigantes na alma e na humildade, nos deixaram exemplos de vida e nos indicaram caminhos, alguns ícones e códigos, para uma vivência harmônica entre o “Eu” individual e o meio em que se vive, quer seja natural, quer seja social e cultural ou econômico.

“A partir de 1870/80 porém, com o advento do café e outros mecanismos capitalistas -como a estrada de ferro, por exemplo, invadindo a região, esses valores passaram por profundas transformações e foram sendo substituídos e subjugados. Inserida no contexto da macro região brasileira que pretendia atender a demanda do café na Europa e Estados Unidos, a Noroeste Paulista com suas terras férteis, atraiu ambiciosos pioneiros que a adentraram afoita e traumáticamente com a finalidade de implantar as suas fazendas cafeeiras. Nesse momento, iniciou-se a derrubada das matas e a destruição da natureza e de sua biodiversidade, incluindo a dizimação dos índios que tentaram impedir com revides ora à espoliação de suas terras, ora à exploração de sua mão de obra e à destruição de sua organização social. Também o primitivo sertanejo, ou seja, os desbravadores, que viviam alheios à esse encadeamento estrutural foram desalojados e banidos da paisagem noroestina, pela revolucionária mudança econômica, que comprometeu seus valores e o seu relacionamento pacífico com os índios que, no ano de 1886, com os ânimos exaltados, se confrontaram também com seus vizinhos desbravadores com quem conviviam amistosamente. Os sobreviventes da chacina, antes de abandonarem a região, recolheram os corpos mutilados e os enterraram em vala comum, no cemitério de N. Sr dos Passos, única edificação que hoje testemunha esse difícil período da história do Desbravamento e primeira tentativa de Colonização da região Noroeste de São Paulo. Dezoito anos mais tarde, voltaram para o Patrimônio dos Passos e atraíram muitos outros habitantes para a região. No ano de 1910, por exemplo, mesmo que oficialmente já tivesse sido fundada Penápolis -a primeira cidade da região- (pelo político Bento da Cruz, ex-morador do Patrimônio, que desviou o traçado original da Estrada de Ferro -ao redor da qual surgiam as cidades- que cruzava o Patrimônio). Penápolis contava com 50 habitantes, enquanto no Nosso Senhor dos Passos residiam aproximadamente 2500 pessoas que, junto com os cafeicultores, fundaram as outras importantes cidades da região.

É Preciso Acautelar um Patrimônio para as gerações novas enlevadas na história, folclore e cultura de nossa Terra.

Historiadora: Glaucia M. de Castilho Muçouçah Brandão

Localização do Patrimônio Histórico: Rodovia Assis Chateaubriand (entre Penápolis e o Salto do Avanhandava no Rio Tietê
Distância de Penápolis: 11 K
Distância do Salto do Avanhandava: 10 K
Única edificação restante: Cemitério dos Desbravadores(ano de 1886)